Infância

Por: Flávia Pires

Quando penso em infância um misto de sentimentos se misturam dentro de mim porque parte da minha foi vivida aqui em Itaperuna RJ, outra parte passada por Muriaé MG e ainda o retorno para Itaperuna, algo muito dolorido pois além de ter vindo embora sem meu pai eu e minha mãe ainda moramos de favor em três casas de amigos e familiares, até que a nossa desocupasse porque estava alugada.

Sinto cheiro de fumaça de cozinhadinho, sinto a euforia da queimada na rua de terra com os meninos da minha rua, as pipas que nunca consegui colocar no alto, mas depois cortava muitas naquele céu azul, e o bambú?

Sim, a gente corria com um bambú na mão pra pegar pipa voada. O cerol era eu que fazia o grude de cola e faria de trigo, alegria era achar uma lâmpada florescente pra fazer o pó de vidro, colocado dento de uma lado de óleo (Geralmente era Soya).

Nós jogavámos boleba, ou bolinha de gude, com buracos que fazíamos na rua, e o jogo do taco com a famosa lata de óleo com maços de cigarros vazios, porque criança sabia que podia brincar com isso e era só,não havia a polêmica de hoje em dia , Deus me livre hoje vê uma criança na rua procurando maço de cigarro pra brincar, da até conselho tutelar.

Marimba no final da noite enquanto minha mãe sentada na pedra com minha tia Mia tomando uma fresca e acendendo o poste de luz com uma pedra cativa, porque na nossa rua só tinha luz depois de uma pedrada no poste, não tinha rede social para reclamarmos e resolviamos do nosso jeito.

Brincar de Barbie depois do dever de casa até anoitecer, horas montado a casa pra brincar.

Escola? Com dez anos já podia pegar aquele busão pra ir para a escola e voltar , o que mais me incomodava era o sol do ponto de ônibus da pracinha do camêlo.

Tudo era farra, na volta pra casa vínhamos na parte de trás pulando junto com impacto do busão pra sentir frio na barriga!

Em Muriaé eu tinha só uma amiga , Aninha, brincavamos de saladinha picando todas as plantas do vizinho.

Pular o muro para ir pra casa da tia Margarida e do tio Luizinho era um troféu, um casal de idosos que adorava que ficávamos lá, me ensinava a tão terrível tabuada, minha tortura, ali já podia dizer, essa menina é TDAH.

Lá não tinha rua, mais tinha terraço e piscina além de frutos que permitia a gente jogar na cabeça dos outros e esconder dentro da caixa d’ água para nossos pais não nos achar.

Tia Mariquinha e tia Yolanda, dava bombons pra gente.

A infância acabou quando meus pais resolveram me participar de traições, brigas e separação, a criança morreu e não tinha mais a mesma magia.

Ser criança hoje chega ser preocupante, pandemia, era digital, uma gama de acessos bem ali no controle eles já navegam!

Ah, a infância da Maria preta, de subir no pé de goiaba e comer lá em cima mesmo.

Venda (mercadinho) do Sr. Zé, tudo quanto é porcaria todos os dias, suspiro, chicles, Maria mole na casquinha de sorvete, doce de três cores, bala soft ( se engoli inteira morre), bala corrente com cara de gatinho, etc.

Hoje meu filho nem prova uma porcaria.

Infância é a formação do equilíbrio e do caráter da criança, pois isso leva marcas pro resto da vida, hoje estou com 39 anos e descobri que tenho TDAH adulto.

Ser criança sempre será meu lugar de voltar no tempo!

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