Por que você pode ter comido insetos durante toda a vida – sem saber
Itaperuna 07 de fevereiro de 2021
Se você fica apavorado com a ideia de comer insetos, temos uma má notícia para dar: provavelmente você já fez isso muitas e muitas vezes, sem saber.
Isso porque um dos corantes vermelhos mais usados nas comidas – o carmim – é feito de insetos esmagados.
Os bichinhos usados para fazer esse corante são chamados cochonilhas e são nativos da América Latina, onde vivem em cactos.
- São cultivados atualmente no Peru – milhões deles são coletados todo ano para produzir o carmim.
O corante é um item básico da indústria global de alimentos, sendo adicionado a inúmeros produtos, desde iogurtes e sorvetes a tortas de frutas, refrigerantes, biscoitos e donuts.
Também é bastante usado na indústria de cosméticos e é encontrado em muitos batons.
O carmim continua a ser amplamente utilizado porque é um aditivo muito estável, seguro e de longa duração, cuja cor é pouco afetada pelo calor ou pela luz.
Quem apoia o uso desse ingrediente também defende que é um produto natural, descoberto há muito tempo pelos maias e depois usado também pelos astecas há mais de cinco séculos. Eles dizem que o carmim é muito mais saudável do que alternativas artificiais, como corantes alimentícios feitos a partir de carvão ou derivados de petróleo.
Mas até os fãs do carmim concordam que ele deveria ser explicado mais detalhadamente e especificado nos produtos.
Se você procurar pela palavra “carmim” em um produto alimentício que o contém, é provável que você não consiga encontrá-la na lista de ingredientes.
Em vez disso, o que pode estar escrito é “vermelho 4”, “vermelho 3”, “cochineal”, “corante natural de cochonilha”, “corante C.I”, “corante E120”.
Amy Butler Greenfield, autor de “A Perfect Red” (Um Vermelho Perfeito, em tradução livre), um livro sobre o carmim e sua história, afirma que, embora acredite que o componente deveria ser devidamente especificado, ele é um produto natural que “sobreviveu ao teste do tempo”.
“O carmim é incrivelmente estável e confiável como comida natural, pode ser usado para criar uma ampla gama de cores – rosas, laranjas, roxas e vermelhas. Poucas pessoas têm reações alérgicas a ele, mas no geral ele tem um ótimo histórico de segurança a longo prazo”, afirmou.
O Peru agora lidera a produção de carmim e, de acordo com a Embaixada Peruana no Reino Unido, o país tem uma participação de 95% no mercado internacional.
Isso cria empregos para pelo menos 32,6 mil produtores, ainda de acordo com a representação diplomática.
Os insetos, que têm cerca de 5 milímetros de comprimento, são “varridos” para fora dos cactos espinhosos. São as fêmeas sem asas que são colhidas, em vez dos machos voadores.
A cor vermelha vem do ácido carmínico, que compõe quase um quarto do peso das cochonilhas e impede a predação por outros insetos.
“Em geral, esses insetos são dissecados primeiro. O corante de cochonilha é colocado em vários filtros para remover as partes de insetos”, explicou Butler Greendield.
Vários batons também têm a coloração feita com o carmim
No ano passado, o Peru exportou 647 toneladas do carmim, o que equivale a um valor total de US$ 46, 4 milhões (R$ 164,5 milhões).
Considerando do que é feito o corante, você poderia pensar que esse seria um mercado em declínio. Mas a demanda está aumentando e, justamente porque o recurso não é infinito, está cada vez mais difícil para os produtores aumentarem a oferta – sendo assim, pela lei do mercado, o preço dele subiu nos últimos anos.
Em 2013, a exportação de carmim do Peru chegava a 531 toneladas – algo que valia em torno de US$ 22 milhões (R$ 78 milhões). Ou seja, nos últimos quatro anos, o preço por tonelada subiu cerca de 73%.
O carmim foi originalmente usado para tingir materiais.
Algumas empresas agora, por conta do aumento do preço, têm cogitado usar outro tipo de corante. É o caso, por exemplo, da Premier Foods, do Reino Unido, que começa a pensar em alternativas.
“Nós usamos carmim em alguns produtos, porque é natural e fornece uma variedade particularmente estável de cores vermelhas e rosas que não desaparecem”, diz um porta-voz da Premier Foods.
“Mas continuamos a buscar alternativas, que além de naturais, também seriam adequadas para vegetarianos”.
Há outros grupos que defendem a não utilização do carmim para proteger os insetos. É o caso do grupo de defesa do direito dos animais Peta.
“Segundo relatos, são necessários 70 mil insetos individuais para produzir apenas 500 gramas de corante, portanto, naturalmente, é um produto que alguns consumidores vão querer evitar”, afirma o grupo.
“Felizmente, o rápido crescimento no número de pessoas seguindo um estilo de vida vegano está incentivando mais e mais empresas a desenvolverem produtos amigos dos animais, por isso nunca foi tão fácil escolher itens veganos para substituir aqueles itens que são criados a partir do sofrimento dos animais”, finalizou.
Uma das empresas que recentemente anunciaram ter parado de usar o carmim é a gigante americana Starbucks.
Em 2012, os clientes começaram a reclamar depois que foi revelado que a empresa usava carmim em alguns de seus cafés gelados, smoothies e bolos. A Starbucks respondeu dizendo que trocaria o carmim pelo licopeno, um extrato natural à base de tomate.
Outros corantes alimentícios naturais incluem extratos de frutas vermelhas e de beterraba. Mas nenhum deles dura tanto e é tão fácil de usar quanto o carmim.
A betanina, o corante alimentar obtido de beterrabas, degrada quando exposta à luz, calor e oxigênio. Por isso, é normalmente utilizado apenas em alimentos com vida útil curta ou congelados.
Mas para Butler Greenfield, apesar das preocupações com os insetos, também é importante lembrar que o carmim é um produto natural e um recurso vital para a sobrevivência de produtores pobres do Peru.
“Esses produtores peruanos em sua maioria são muito pobres e dependem do carmim para sobreviver”, destaca.