Um homem chamado Zé

Itaperuna 12 de maio de 2022

DA SÉRIE ENQUANTO VIVOS


O BNB segue escrevendo sobre gente importante e viva, afinal depois da morte é fácil homenageá-las, mais vale o agora enquanto podem ler, sentir, refletir e honrarem-se com o reconhecimento de toda uma vida.
Como José do Egito, ele nunca esmoreceu
Por Nino Bellieny


A música que ele mais ouvia nas viagens para o Rio, na época dos CDs, era do Biquini Cavadão cujo refrão ainda ecoa: “Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém”.
Mesmo tendo passado o tempo e a ascensão tenha acontecido dentro de disciplina, esforço e inteligência, não deixou de ser do povo, embora nunca tenha sido um “Zé Ninguém”, comportava-se dentro dos limites da mais esmerada educação e gentileza, com os mais humildes e com os mais abastados, os mais simples e os mais poderosos.

O silêncio de longas pausas, a economia de frases refletida em uma que sintetizava pergunta e resposta em uma única sílaba, o fazia misterioso: “É?”, “É….”, de acordo com a inflexão e a capacidade de interpretação do interlocutor, funcionava e dado estava o recado.

Sempre cumpriu a palavra, ainda que se sacrificasse, estoicismo trouxe da infância sofrida, mas digna.
Jamais presenciei dele detonação sobre alguém ou expressões raivosas. Explosões, se aconteceram, nunca as vi nem ouvi sobre. Mas ele sabia ouvir as alheias, em total silêncio, sem mover um músculo facial.

No futebol foi rápido, forte perseguidor das vitórias, inconformado com as derrotas. Dos amigos feitos no universo dos gramados, a muitos ajudou e creio, ajude até hoje, tirando vários de situações tristes, com atitudes, pois sabe-se: palavras perdem para ações e nunca deixarão de perder.

Grato a quem estendeu-lhe as mãos nas épocas de estio, não se vingou dos que negaram, nem pensaria nisso, pois o tempo é doutor e a melhor vingança é ser feliz.

Não o vejo há muito tempo, mas durante 4 anos trabalhei e convivi, observei e assimilei, e ele nem desconfia, mas teve forte influência sobre meu temperamento então reativo e bombástico, eu seria estúpido se não tivesse aprendido com ele ( também com outros amigos de diferentes temperamentos), e me sinto grato por ter trilhado a mesma estrada naquele instante.

Recentemente esteve no fundo da mina mais profunda, onde a única luz era a da fé, aquela que , no período passado como jogador profissional em Israel, compreendeu como pode ser forte e poderosa, estando o Senhor dos Exércitos ao lado o tempo inteiro.

E aí, mesmo sendo bom conhecedor da alma humana, viu de verdade quem era e quem é, quem foi e quem permaneceu. Amigos de frases fáceis e bonitas, ocultaram-se nas sombras em profecias baratas, daquelas cheirando a lodo revestido por despeito. O prato que alimentou foi cuspido, a taça quebrada, a pureza empoeirada.

Em algum lugar algo não estava bem, mas quem já foi além do fim e não reclama, não revida nem amaldiçoa, volta mais forte, a linha foi cruzada, mas o espírito inoxidou-se. Sobreviventes se curvam, porém não se partem.

Ë chegada a hora da volta das cheias no Rio Nilo da vida. Os fariseus também voltarão em quantidade, os tapas nas costas, as longas parábolas de “eu nunca deixei de acreditar em ti”, os espectros sombrios disfarçados em mantas de bondade e ternura.

Nem por isso receberão de volta lanças embebidas em fel, vitória completa é estar bem consigo, com Deus, com todos. Perde-se verdadeiramente aquele que planeja revanches emocionais.

Não sei quando o verei, não importa, sei que em alguma parte desse mundo visível e invisível, aquele que tanto me ensinou e nem sabe disso, está bem, e feito uma fênix, fará o voo do retorno na hora exata.

Deus contigo José Carlos Melo, ou simplesmente… Zé.
Seja bem -vindo. Aqui lhe esperamos.

Blog Flávia Pires – Um Novo Jeito de Informar

One thought on “Um homem chamado Zé

  • maio 12, 2022 em 10:51 am
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    Não o conheço pessoalmente, mas o assemelho ao Robin Hood, ajudou muita, mas muita gente mesmo, inclusive a mim. Sou verdadeiramente grato a ele e aos que intercederam.

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