O Ódio Escolhido: Quando a Humanidade Decide Ferir
Itaperuna 25 de maio de 2025
A cada dia, fica mais evidente que vivemos em uma era em que a empatia está sendo substituída por julgamentos apressados, sarcasmo cruel e uma disposição quase doentia em alimentar a dor alheia. O episódio mais recente envolvendo o padre Fábio de Melo é apenas um retrato do que, infelizmente, tem se tornado um padrão no comportamento humano: a escolha consciente pelo ódio.
Tudo começou com um relato simples e cotidiano. O padre, como qualquer cidadão, compartilhou em suas redes sociais uma situação de consumo em que se sentiu lesado ao encontrar divergência entre o preço de um produto na prateleira e o valor cobrado no caixa. O que deveria ser apenas uma narrativa de alerta sobre direitos básicos do consumidor rapidamente se transformou em alvo de zombarias, piadas cruéis e comentários impregnados de maldade.
Não se tratou de discordância, tampouco de crítica construtiva. As reações revelaram algo mais profundo e sombrio: a satisfação de ferir. A vontade deliberada de atingir emocionalmente uma pessoa que já se declarou fragilizada. Padre Fábio não esconde de ninguém sua luta contra a depressão — uma batalha silenciosa, dolorosa, e ainda cercada de estigmas. Mesmo assim, ou talvez exatamente por isso, muitos escolheram rir de sua dor, ironizar seu cansaço e tratar como exagero sua exaustão.
Esse comportamento revela uma faceta dura da sociedade atual: as pessoas não apenas se tornaram insensíveis, elas estão optando pela crueldade. Diante de alguém que se mostra vulnerável, ao invés de acolher, muitos preferem agredir. E não há justificativa tecnológica ou cultural para isso. Não é sobre internet, sobre algoritmo, sobre bolhas de redes sociais. É sobre a humanidade — ou a ausência dela.
Temos visto, repetidamente, pessoas sendo destruídas por comentários anônimos. Gente que desaba, que grita por ajuda, que mostra sinais de que está no limite — e mesmo assim, encontra pela frente uma plateia disposta a aplaudir o sofrimento. A dor virou espetáculo. A tristeza alheia, conteúdo. A saúde mental de alguém, motivo de escárnio.
Isso não é sobre liberdade de expressão. É sobre escolhas morais. E a escolha tem sido o ódio.
O mais alarmante é que isso não acontece com desconhecidos. Acontece com figuras públicas, com artistas, com religiosos, com pessoas queridas nacionalmente. Imagine então o que vive, calado, um cidadão comum, sem voz, sem palco, sem multidão.
Estamos diante de uma epidemia de maldade voluntária. As pessoas sabem o que estão fazendo. Sabem que estão ferindo. Sabem que aquela frase, aquele deboche, aquele comentário, pode ser a gota d’água para alguém que está segurando o peso do mundo. E mesmo assim, clicam. Digitam. Riem.
Por isso, o caso de padre Fábio não é isolado. Ele é espelho de um comportamento que vem se alastrando e que precisa ser interrompido com urgência. Não por leis, não por plataformas, mas por decisão de consciência.
Está na hora de a humanidade se olhar no espelho e perguntar: “Que tipo de gente estamos nos tornando?”
Porque rir da dor de alguém não é piada. É desumanidade.
O PREÇO DA LIBERDADE É A EFERNA VIGILÂNCIA