Candidato a prefeito em Belford Roxo cumprimenta líder de milícia em agenda de campanha
Itaperuna 01 de setembro de 2024
Imagens mostram Márcio Canella (União Brasil) com Kim do Babi. Político afirma desconhecê-lo
O deputado estadual Márcio Canella (União Brasil), candidato a prefeito de Belford Roxo (RJ), teve um encontro com a liderança de uma milícia que atua na cidade em uma atividade da campanha eleitoral. Imagens obtidas pelo GLOBO mostram Canella cumprimentando um homem identificado como Jefferson Damázio Luquetti, conhecido como Kim do Babi. Ele já foi preso em 2019 sob acusação de liderar o grupo criminoso sediado no bairro do Babi. O encontro com Canella, que afirma desconhecer o miliciano, ocorreu na quadra de uma escola de samba localizada em área de atuação da milícia.
As imagens, registradas em junho deste ano, mostram Jefferson cercado por ao menos uma dúzia de homens vestidos de preto na entrada da quadra da Inocentes de Belford Roxo, no bairro Parque São Vicente, vizinho ao Babi. Canella chega ao local acompanhado pela candidata a vereadora Tati Ervite (PL), que conduz o candidato a prefeito para cumprimentar Jefferson.
Ervite divulgou nas suas redes sociais outras imagens do evento, nas quais cumprimenta apoiadores ao lado de Canella, mas não incluiu o momento do encontro com Jefferson.
Retomada do posto
Jefferson foi preso pela Polícia Civil em novembro de 2019. Em denúncia oferecida contra diversos integrantes da milícia, o Ministério Público afirmou que ele era o braço direito de Anderson da Silva Farias, o Japonês, líder do grupo criminoso. Segundo o MP, Jefferson atuava com “agiotagem e coordenação da vigilância” na área dominada pelo bando. Ele foi condenado a sete anos de prisão.
Anderson foi preso posteriormente, em fevereiro de 2022. Pouco depois, em setembro daquele ano, Jefferson recebeu liberdade condicional e deixou a prisão. Relatos em redes sociais e fontes ouvidas pelo GLOBO apontam que ele retomou o posto de liderança da milícia após ser solto, embora esteja obrigado a comparecer em uma unidade da Secretaria Estadual de Ação Penitenciária (Seap), a cada três meses, para manter a Justiça atualizada sobre suas atividades e seu paradeiro.
O GLOBO procurou a advogada Ana Carolina Warda, responsável pela defesa de Jefferson, mas não obteve resposta. Em contato com a reportagem, Canella afirmou que não tinha conhecimento do encontro com Jefferson. Ele disse que não compactua com o crime organizado, e que apresentou um requerimento ao governo do estado, no ano passado, para criar uma delegacia especializada de combate à milícia.
— Eu vou em tudo o que é evento. Não vai querer me colocar um rótulo que eu não tenho. Um candidato a vereador faz um evento com mil pessoas e eu vou sair pedindo antecedentes criminais para saber se posso tirar foto com o sujeito? É hipocrisia me perguntar um negócio desse, é só ver o meu trabalho — afirmou.
Ao GLOBO, Ervite, que tem feito outras atividades de campanha com Canella, disse desconhecer Jefferson e afirmou ter cumprimentado “muitas pessoas” que jamais vira.
Além da condenação por fazer parte de milícia, Jefferson já havia cumprido pena por homicídio entre 2014 e 2017.
A denúncia do MP a respeito do grupo criminoso menciona outro vereador aliado de Canella, Eduardo Araújo (PL), por suposto envolvimento com o bando. Segundo o MP, interceptações telefônicas flagraram dois integrantes do grupo discutindo acionar Araújo para interceder contra a prisão de um miliciano.
Na campanha de 2022, além de apoiar Canella, Araújo pediu votos para a deputada federal Daniela Carneiro, ex-ministra do Turismo e esposa do prefeito Waguinho. Neste ano, Araújo segue ao lado de Canella e participou, na quarta-feira, de uma caminhada com o candidato no bairro Barro Vermelho.
O Globo