Grampo pega vereador do Podemos cobrando propina de pagodeiro do PCC
Itaperuna 20 de abril de 2024
No rastro de fraudes em licitações sob influência do PCC, que infiltrou uma quadrilha em prefeituras e câmaras municipais do interior e da Grande São Paulo, os investigadores da Operação Muditia, do Ministério Público estadual, grampearam mensagens que revelam a suposta combinação de propina entre o suposto cabeça do esquema, o cantor de pagode Vagner Borges Dias, o Latrell Britto, e o vereador Flávio Batista de Souza (Podemos), o Inha, de Ferraz de Vasconcelos. Os diálogos mostram detalhes sobre o acerto de valores e também como o pagamento seria feito.
Até a publicação deste texto, a reportagem do Estadão buscou contato com as defesas de Inha e de Latrell, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestação.
Inha foi preso na semana passada. Ele está no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Mogi das Cruzes — onde tem recebido a visita de servidores graduados da prefeitura e da Câmara de Ferraz. Exerce seu terceiro mandato de vereador. Já foi vice-prefeito (2008-2012) e secretário municipal de Transportes (2014-2016), período em que, segundo a oposição, brecava qualquer projeto de licitação para concessão de transportes.
Uma conversa que reforça as suspeitas sobre o vereador data de junho de 2020. Após ligação de Inha, o pagodeiro diz: “Verdade, tinha esquecido. Pega 7 aqui, ficam faltando 500 que mando mês que vem”. Antes, Latrell Britto teria encaminhado ao vereador o valor de R$ 267 mil, referentes, segundo a Promotoria, a montantes pagos mensalmente pela Prefeitura por contratos de serviços de limpeza — Latrell é dono da Vagner Borges Dias ME.
“Os valores repassados ao agente político são claro percentual do contrato das empresas investigadas com a prefeitura”, ressaltaram os promotores ao pedirem à Justiça autorização para abertura da Operação Muditia.
O cálculo do repasse é descrito pelo próprio Latrell Britto em uma mensagem interceptada, destacam os promotores. O suposto operador fala em 7% de propina. Os investigadores cruzaram os valores descritos na conversa e identificaram que o montante citado pelo pagodeiro correspondia a exatos 7% do valor das notas pagas pela prefeitura à sua empresa.
A Operação Muditia, aberta no último dia tal, levou à prisão de três vereadores: Flávio Batista de Souza (Podemos), o Inha, de Ferraz de Vasconcelos; Luiz Carlos Alves Dias (MDB), o Luizão Arquiteto, de Santa Isabel; e Ricardo Queixão (Podemos), de Cubatão.
A força-tarefa mobilizou 27 promotores de Justiça e 200 policiais militares. Por ordem da juíza Priscila Devechi Ferraz Maia, da 5ª Vara Criminal de Guarulhos foram capturados 13 alvos. A investigação aponta fraudes que superam R$ 200 milhões e envolvem, além de políticos, servidores de gestões municipais, inclusive procuradores e secretários.
“Nas palavras de Vagner, a movimentação é verdadeira operação para assegurar, mensalmente, após a cobrança do vereador, a parcela escusa do contrato repassada aos agentes políticos”, diz o MP.
Fonte : UOL