Em meio a racha entre aliados, Castro fatia secretarias e amplia entrega de cargos para conter pressão da base
Itaperuna 30 de outubro de 2023
Governador do Rio tenta atenuar racha entre aliados, que pleiteiam espaços no primeiro escalão de olho em influência. PL, PP, União Brasil e MDB abrem disputa por prefeituras
Buscando segurar sua base partidária às vésperas das eleições municipais de 2024, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), avançou no fatiamento do secretariado para amenizar pressões de aliados. O desenho atual do primeiro escalão, contudo, segue causando incômodo e alimentando rixas entre caciques de partidos como PL, PP, União Brasil e MDB, com impacto na montagem de candidaturas. Em municípios da Baixada Fluminense, do interior e na capital, as siglas aliadas do Palácio Guanabara já abrem frentes de disputa.
Há duas semanas, Castro trocou a chefia da Polícia Civil e nomeou o delegado Marcus Amim, escolhido por sua proximidade com o grupo político do presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (União). Adversários de Bacellar alegam haver tentativa de interferência política no órgão por parte do presidente da Alerj, o que ele nega.
A mudança apaziguou críticas públicas de Bacellar ao governo, e a Alerj aprovou na sequência medidas para incrementar o caixa estadual em 2024. A calmaria no Legislativo, porém, veio a custo de acentuar o incômodo de caciques como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o líder do PP na Câmara, Doutor Luizinho, que enxergam um excesso de força de Bacellar, segundo relatos de interlocutores ao GLOBO.
— Castro e Bacellar compuseram um acordo de governabilidade, em que os dois têm que ceder. O governo aprovou o que precisava, como a desvinculação dos fundos estaduais — minimizou o deputado estadual Fred Pacheco (PMN), um dos articuladores de Castro na Alerj.
Flávio pressionou Castro a abrir espaço para um aliado, Gutemberg Fonseca, na recém-criada Secretaria de Defesa do Consumidor, mas há divergências sobre a estrutura do órgão, considerada pequena. Há um mês, o governador esvaziou a pasta de Infraestrutura, comandada por um amigo próximo, Uruan Cintra, para abrir outra secretaria, a de Cidades, com maior potencial de entregas na ponta. Ele acomodou na pasta o deputado estadual Douglas Ruas (PL), que é apadrinhado do presidente estadual do PL, deputado federal Altineu Côrtes, e também se aproximou de Bacellar.
Já Luizinho, que pilota as indicações na secretaria estadual de Saúde desde o início da gestão Castro, intensificou movimentações para lançar candidatos em colégios eleitorais importantes contra o grupo de Bacellar. Ambos, segundo aliados, vislumbram se cacifar para concorrer à sucessão de Castro no governo em 2026.
Em Campos dos Goytacazes, maior cidade do Norte do estado e reduto de Bacellar, o PP filiou na semana passada o atual prefeito Wladimir Garotinho, com as bênçãos de Luizinho. Candidato à reeleição, o prefeito campista vive um embate acirrado com a família de Bacellar, sua rival histórica. Dias depois da filiação, deputados aliados de Bacellar organizaram uma batida em um hospital municipal, e usaram o evento como plataforma para ataques à gestão.
Um dos parlamentares, o deputado estadual Filippe Poubel (PL), passou a ser cotado para disputar a prefeitura contra Garotinho, segundo antecipou a colunista Berenice Seara, do Extra.
Já em Nova Iguaçu, reduto de Luizinho, o PP tenta emplacar o sucessor do atual prefeito Rogério Lisboa e deve enfrentar Clébio Jacaré (União). Ele é apoiado pelo deputado estadual Márcio Canella, dirigente do União Brasil e braço-direito de Bacellar.
Falta de posição
No Rio, Canella caminha para uma aliança com o atual prefeito Eduardo Paes (PSD), enquanto Flávio apoia a candidatura do bolsonarista Alexandre Ramagem (PL).
Outra legenda da base de Castro, o MDB, do secretário estadual de Transportes, Washington Reis, também deve disputar votos do bolsonarismo no Rio lançando o deputado federal Otoni de Paula, que é pastor evangélico. O MDB ainda deve enfrentar o PL em cidades como Angra dos Reis e Saquarema.
Castro, segundo aliados, tem evitado se posicionar na maior parte das disputas internas de sua base, para não desagradar nenhuma parte, o que vem abrindo brecha para mais arestas. Em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, por exemplo, o PL tem dois pré-candidatos rivais: os deputados estaduais Valdecy da Saúde, ligado à atual prefeitura, e Léo Vieira, opositor, que se filiou ao partido recentemente com apoio de Altineu.
Estratégias que partem do Guanabara
- Troca na Polícia Civil — O governador mudou a chefia da Polícia Civil e nomeou o delegado Marcus Amim, agradando o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar.
- Cargo para aliado — Flávio Bolsonaro pressionou, e o governador abrigou Gutemberg Fonseca na recém-criada secretaria da Defesa do Consumidor.
- Criação de secretaria — Cláudio Castro criou a Secretaria de Cidades para acomodar Douglas Ruas, apadrinhado do presidente estadual do PL, Altineu Côrtes.
- Disputas em 2024 — O governador evita se posicionar na maior parte das disputas internas de sua base, para não desagradar a nenhuma aliado.
O Globo