Rachado, União Brasil fica sem diretórios municipais e ‘some’ em metade das capitais; entenda
Itaperuna 28 de abril de 2023
Direção nacional, sob comando de Luciano Bivar, interveio após convenções partidárias emplacarem rivais em locais como Rio e Recife
Em meio a uma rebelião interna com ameaça de debandada, o União Brasil está sem diretórios municipais em 13 das 26 capitais nas quais haverá disputa por prefeituras em 2024 — não há eleição em Brasília. Integrantes do União tentam chegar a acordos para definir o comando entre diferentes grupos políticos que compõem a sigla, fruto da fusão entre PSL e DEM, mas há divergências em capitais como Rio, Recife e Cuiabá. Em alguns casos, a queda de braço envolve conflitos com a cúpula nacional da legenda, presidida pelo deputado federal Luciano Bivar.
Na capital de Pernambuco, cidade natal de Bivar, houve uma convenção municipal para empossar o também deputado Mendonça Filho no comando do diretório local. Bivar, no entanto, invalidou a convenção. Mendonça faz parte de um grupo rival ao presidente da legenda e faz oposição ao prefeito de Recife, João Campos (PSB), que tem diálogo com Bivar.
— Ele (Bivar) tentou na Justiça não reconhecer a eleição duas vezes, e as decisões foram favoráveis a mim. Cabe a ele agora cumprir a decisão e registrar o diretório —disse Mendonça.
No Rio, Lúcia Brazão, irmã do deputado federal Chiquinho Brazão, foi eleita para comandar o diretório carioca em dezembro. Bivar interveio e o deputado estadual Márcio Canella passou a comandar a sigla. Como a escolha de Canella não se deu por convenção, e a comissão provisória perdeu validade, hoje a legenda está acéfala na capital fluminense.
A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, e seu marido, o prefeito de Belford Roxo, Waguinho, ambos adversários de Canella atualmente, puxaram uma tentativa de debandada do União Brasil após o imbróglio. Waguinho assumiu o comando do Republicanos no estado, enquanto Daniela e mais cinco deputados federais do União no Rio, incluindo Chiquinho Brazão, entraram com um pedido de desfiliação na Justiça Eleitoral.
Na ação, os parlamentares reclamaram da intervenção de Bivar no diretório carioca e alegaram que ela ocorreu sem haver consulta ao secretário-geral da legenda, ACM Neto, responsável estatutário pelo relacionamento da direção nacional com os demais órgãos partidários. O grupo dissidente é contra apoiar a reeleição do atual prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que costurou uma aliança com a direção nacional do União.
Neto e outros caciques egressos do DEM, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, fazem parte do grupo que costuma estar do lado oposto a Bivar, ex-presidente do PSL, nas disputas internas do União.
Risco de saídas
No Mato Grosso do Sul, integrantes da legenda também recorreram ao secretário-geral para reintegrar à vice-presidência estadual a ex-deputada Rose Modesto. Ela trava uma queda de braço pelo comando da sigla com a senadora Soraya Thronicke, aliada de Bivar e que avalia se desfiliar.
No vizinho Mato Grosso, as eleições municipais foram motivo de mais uma briga interna na capital Cuiabá, onde o União Brasil também deixou de existir formalmente. O racha pode resultar na saída do senador Jayme Campos (União-MT) da legenda. Ele recebeu convite do PSD.
Jayme é aliado do presidente da Assembleia de Mato Grosso, Eduardo Botelho, que tenta o apoio do União para ser candidato a prefeito de Cuiabá. Do outro lado está o presidente estadual do partido, deputado Fábio Garcia, que é do grupo ligado ao governador Mauro Mendes no partido.
Caso não consiga apoio da legenda, Botelho deve disputar o cargo por outro partido e levar o senador junto com ele para fora do União.
— O senador Jayme nunca me falou dessa possibilidade (de sair do União Brasil). O presidente da Assembleia já recebeu vários convites. Eu, como presidente do partido, acredito que a gente precisa tratar essa questão nas instâncias corretas e nos momentos corretos — argumentou Garcia.
Curitiba, Goiânia, Manaus, Fortaleza, Rio Branco, Macapá, São Luís, Boa Vista, Porto Velho e Aracaju são outras capitais nas quais o União Brasil também está sem diretórios municipais.
De acordo com o estatuto do partido, as capitais podem ficar sem as estruturas desde que o estado obedeça o número mínimo de 5% dos municípios com diretório constituído. O prazo estabelecido pela legenda para as convenções municipais e estaduais venceu no último dia 31 de março, mas a sigla ainda pode convocar convenções extraordinárias.
O GLOBO
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