Relacionamentos abusivos por Dr. José Fernandes Vilas

Itaperuna 05 de fevereiro de 2021

Hoje quero conversar com você sobre uma questão bem séria mesmo: relacionamentos abusivos. Você já ouviu alguém dizer assim, “ah, ele é meio nervoso, meio chatinho, mas o importante é que a gente está junto”, ou então, “ah, ela dá uns gritos, xinga, é um pouco agressiva, mas é o jeitinho bonitinho dela”? Já ouviu isso? Então. Vamos conversar sobre isso hoje.
Tem gente que para não ficar sozinho tolera pessoas que cometem abuso. Aliás, tem gente que pensa que abuso tem sempre cunho sexual. Mas há vários tipos de abuso – moral, físico, emocional, e outros.
Agora, você já parou para pensar qual é o limite do abuso? Até onde vai a ignorância de uma pessoa, e até onde você tolera aquilo? Essa é que é a questão.
Esse assunto é muito sério. No mundo profissional, por exemplo, tem gente que aguenta o abuso moral cometido por superiores e até por colegas para não perder o emprego. E deixa o tempo passar. Quando vai ver, começa uma onda de dor de cabeça, dor no corpo, a pessoa desenvolve um Burnout e não sabe que está adoecida porque o nível de tolerância a abusos já passou do limite faz tempo.
Por falar em limite, a primeira coisa que a pessoa que sofre abuso começa a perder é o limite. Em vários níveis, aliás. A pessoa abusada também tem a tendência em abusar, pense nisso. “ah, mas você está dizendo que eu fui abusado ou abusada, e me torno um abusador também?” Olha, a violência que você sofreu vai explodir em algum ponto da sua vida, e se não achar essa válvula de escape, explode na forma de doença física ou emocional.
O que tem de gente sofrendo calado por abusos que tolera para não acabar um relacionamento, para não “perder um filho”, com medo daquele marmanjo ir embora ou aquela filha grosseira sair de casa, então fica tolerando, tolerando.
Tolera reclamação, tolera cara feia, destrato, tolera piadinhas de mal gosto. “ah eu estou só brincando, não leva a mal não!”, e você, para não perder a “amizade”, entre aspas, né, você fica ali, aguentando aquela vontade de falar umas verdades.
O resultado disso é doença patológica, não tenha dúvida. Até quando você vai suportar um relacionamento abusivo na sua vida? E detalhe, se você não se posicionar, o abusador fará mais vítimas.
Relacionamentos abusivos acontecem até na escola, até em ambientes que deveriam ser os mais sadios. Você diz que há um abuso quando um limite é ultrapassado. Tivemos recentemente o caso de uma famosa atriz da TV que levou anos para finalmente conseguir falar que estava sendo abusada por um diretor também famoso, e logo outros casos surgiram. Essa atriz contou que toda vez que chegava para gravar ficava com suor nas mãos, com palpitação – isso é crise de ansiedade.
Repare que a pessoa abusada vai sair de seu estado normal, o medo de tudo começa a tomar conta, e se não tratar pode até virar uma síndrome do pânico, no mínimo. Então às vezes a pessoa vai ao médico dizer que está com problema no estômago, e o problema é outro: ela está é sendo abusada mesmo, e não consegue reagir.
Bem, o assunto é extenso, mas quero dar uma pequena dica para você: se você foi vítima de qualquer espécie de abuso e você sente ou percebe que isso interferiu na sua saúde emocional, no seu bem estar, é hora de você conversar com um profissional sério a respeito.
É hora de você se perdoar, passar a limpo isso. Especialmente as mulheres abusadas sentem vergonha de dizer que foram vítimas, porque no Brasil a vítima acaba ficando com o rótulo de culpada quando o assédio acontece. Mas os homens também vivenciam isso: quantos homens traumatizados por terem sido vítima de assédio, de abuso, não apenas físico mas também emocional?
Se o menino é magrinho, não joga futebol, não luta, logo começa o abuso por parte dos amiguinhos. A menina se chegar a uma idade socialmente considerada ideal para se relacionar com

mais intimidade, se não fizer nada, é a “santinha”. Repare que doença social generalizada, em que pessoas de diferentes nichos rotulam, desprezam, diminuem.
Na verdade elas estão praticando o abuso no relacionamento.
Para inverter essa situação catastrófica, comece alinhando os seus limites. Deixe claro de maneira calma e firme que seu limite é aquele. Se a pessoa ultrapassar, não fique tentando consertar a pessoa: afaste-se dos agressores.
Relacionamentos abusivos, sejam de que nível for, precisam ser cortados. Qualquer benefício que um relacionamento abusivo traga é menor do que o dano que ele causa.
Comece estabelecendo seus limites pessoais. Deixe claro esses limites. Se o outro ultrapassar esse limite, seja firme e decida respeitar a si mesmo antes de dar qualquer tipo de bônus para quem está abusando de você.
O respeito à vida começa no respeito a si mesmo. Você é meu convidado para começar essa nova jornada hoje. Procure um profissional sério, não se cale, recomece sua jornada onde algum abusador a interrompeu, e prepare-se para ir mais longe do que jamais imaginou.
Saia dessa prisão dos que vivem relacionamentos abusivos. Me conte como foi, e até a próxima.

José Fernandes Villas

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